4 de dezembro de 2013

CREAM - FRESH CREAM (1966)


Fresh Cream é o álbum de estreia da banda inglesa chamada Cream. Seu lançamento oficial se deu no dia 9 de dezembro de 1966, com as gravações acontecendo entre julho e outubro daquele mesmo ano, nos estúdios Rayrik Studios & Ryemuse Studios, em Londres, na Inglaterra. A produção ficou a cargo de Robert Stigwood e os selos responsáveis foram o Reaction (UK) e Atco (USA).



Falar de Cream é dissertar sobre uma das mais importantes e influentes bandas de todos os tempos. Para muitos críticos, é o primeiro chamado “supergrupo” a obter sucesso internacionalmente.

Em julho de 1966, Eric Clapton já era tido como um talentoso guitarrista, muito devido a suas atuações com as bandas The Yardbirds e John Mayall & the Bluesbreakers. Clapton, no entanto, começou a sentir que o ambiente do grupo de Mayall estava confinando seu talento e começou a buscar novos horizontes musicais.

Eric Clapton


Naquele mesmo ano, Clapton conheceu Ginger Baker, então o baterista de um conjunto chamado  Graham Bond Organisation, que em um determinado momento também tinha Jack Bruce no baixo, guitarra, gaita e piano.

Ginger Baker também se sentia sufocado na Graham Bond Organisation e estava mais que exaurido com os vícios e crises de instabilidade mental devido ao uso desregulado de drogas por Graham Bond.

Ginger Baker


Eric Clapton afirmou que:"Eu sempre tinha gostado de Ginger". Continua: "Ginger tinha vindo para me ver tocar com os Bluesbreakers. Após o show, ele me levou de volta a Londres em seu Rover. Fiquei muito impressionado com o seu carro e jeito de dirigir. Ele estava me dizendo que ele queria começar uma banda, e eu estive pensando sobre isso também", finalizou o guitarrista.

Com cada um impressionado com as habilidades musicais do outro, Baker pediu a Clapton para se juntar ao seu novo grupo, então sem nome. Clapton imediatamente concordou, sob a condição de que Baker trouxesse Jack Bruce como baixista do conjunto.

De acordo com Clapton, Ginger Baker estava tão surpreso com a sugestão que quase bateu o carro. Eric conheceu Bruce quando o baixista/vocalista, brevemente, havia tocado com os Bluesbreakers em novembro de 1965.

Os dois também tinham trabalhado juntos como parte de uma banda chamada Powerhouse (que também incluiu Steve Winwood e Paul Jones). Impressionado com os vocais e proezas técnicas de Bruce, Clapton gostaria de tê-lo no novo projeto.

O que Clapton desconhecia era o fato de, enquanto Ginger Baker e Jack Bruce estavam no Graham Bond Organisation, o relacionamento dos dois era péssimo. Incluindo: brigas no palco, sabotagens aos instrumentos um do outro, além de Baker expulsar Bruce do grupo após ameaçá-lo com uma faca.

Baker e Bruce colocaram de lado suas diferenças para o bem do novo trio de Ginger, o qual ele imaginou como colaborativo e participativo, com cada um dos membros contribuindo para as músicas e as letras.

A banda foi nomeada "Cream", pois Clapton, Bruce e Baker já eram considerados a "nata da cultura" entre os músicos de blues e de jazz na efervescente cena musical britânica da época. Inicialmente, o grupo foi referido e anunciado como "The Cream" (ou seja, com o artigo definido The), mas quando saíram oficialmente seus primeiros lançamentos de discos, o trio seria chamado simplesmente de "Cream".

A banda chegou a cogitar o nome "Sweet 'n' Sour Rock 'n' Roll".

Do trio, Clapton tinha a maior reputação dentro da Inglaterra, no entanto, ele era praticamente desconhecido nos Estados Unidos, pois havia deixado o Yardbirds antes de "For Your Love" atingir o Top Ten na parada norte-americana de singles.

O Cream fez sua estréia não-oficial no Twisted Wheel em 29 de julho de 1966. A oficial viria duas noites mais tarde na Sixth Annual Windsor Jazz & Blues Festival. Sendo um grupo novo e com poucas canções originais no set, a banda tocava versões de blues que emocionaram a multidão e ganharam uma recepção calorosa.

Em outubro, a banda também teve a chance de tocar com Jimi Hendrix, que havia chegado recentemente a Londres. Hendrix era um fã da música de Clapton e queria uma chance de tocar com ele no palco. Jimi foi apresentado ao Cream através de Chas Chandler, seu empresário.

Jack Bruce


Foi durante o início dos ensaios do conjunto que eles decidiram que Jack Bruce seria o principal vocalista do grupo. Enquanto Clapton tinha vergonha de cantar, ele ocasionalmente foi harmonizando seus vocais com Bruce e, com o tempo, assumiu a principal voz em várias faixas do Cream.

Com a mesma velocidade o Cream já entrou em estúdio para gravar seu primeiro registro de estúdios. O Blog levará em conta a versão original do álbum lançada no Reino Unido.

N.S.U.

Abre o disco a faixa “N.S.U.”.

Ginger Baker abre o trabalho com uma levada mais tranquila e a qual é seguida pela guitarra de Clapton. Em instantes a fúria da banda já aparece, com Baker “esmurrando” a batera e Clapton com um riff mais pesado e cheio de ritmo. Os vocais de Bruce são ótimos e o solo de Clapton é absurdamente repleto de feeling.

A letra é pequena, mas divaga sobre um estilo de vida:

Driving in my car, smoking my cigar,
The only time I'm happy's when I play my guitar



SLEEPY TIME TIME

A segunda música do álbum é “Sleepy Time Time”.

O início suave e mais delicado até engana, mas logo o que se houve é um Blues Rock de primeiríssima qualidade. O destaque maior é a guitarra de Clapton a qual permanece em evidência por toda a duração da canção. Os solos são fenomenais.

A letra pode ser entendida como uma ode à preguiça:

I'm a sleepy time baby, a sleepy time boy.
Work only maybe, life is a joy



DREAMING

A terceira canção de Fresh Cream é “Dreaming”.

“Dreaming” tem uma levada mais calma se comparada com as duas faixas que a precedem, com um ritmo típico do Rock dos anos 60. As linhas da guitarra de Clapton estão bem mais suaves, sendo bonitas. Assim, também, é a interpretação de Bruce.

A letra fala de um amor distante:

Dreaming about my life;
Where are you now and when will you
Come to me?
I dream my life away



SWEET WINE

A quarta faixa do disco é “Sweet Wine”.

Em “Sweet Wine” a bateria de Baker está bastante proeminente, mostrando o talento do baterista. A levada é bem característica do Rock daquela década, mas com a guitarra de Clapton mais furiosa. O solo é incrível, com muita técnica e feeling.

A letra mostra a temática de desperdício da vida:

Sweet wine, hay making, sunshine day breaking
We can wait till tomorrow
Car speed, road calling, bird freed, leaf falling
We can bide time



SPOONFUL

A quinta canção presente em Fresh Cream é “Spoonful”.

Maior faixa do trabalho, “Spoonful” apresenta uma forte interpretação de Jack Bruce, carregada de sentimento e intensidade. Outra vez, a guitarra de Clapton está impressionante, com as notas sendo tocadas precisamente, baseadas pelo importante trabalho da seção rítmica. Mais um ótimo solo.

“Spoonful” é um Blues composto originalmente por Willie Dixon e popularizada por Howlin’ Wolf em 1960.



CAT’S SQUIRREL

A sexta música do trabalho é “Cat’s Squirrel”.

Nesta música é possível se perceber a qualidade dos músicos que integravam o Cream. Baixo e bateria formam uma ótima base para a guitarra de Eric Clapton desfilar toda sua magia com solos muito bem compostos.

Trata-se de uma música tradicional, instrumental, com os arranjos feitos pelo Cream.



FOUR UNTIL LATE

A sétima música presente no álbum de estreia do Cream é “Four Until Late”.

A forte influência de Blues no som do Cream é sentida em outra oportunidade em “Four Until Late”. Trata-se de um Blues Rock bem suave, com linhas de guitarra mais leves e com toda melodia sensível típica do estilo. A gaita tocada por Jack Bruce é um show.

É a única faixa do álbum cantada por Eric Clapton e trata-se de outro cover, desta vez de uma canção originalmente composta pelo mito do Blues, Robert Johnson.



ROLLIN’ AND TUMBLIN’

A oitava canção do trabalho é “Rollin’ And Tumblin’”.

O Blues Rock está novamente presente com um ritmo forte, intenso, marcado por uma seção rítmica mais agressiva e acompanhados pela guitarra marcante de Clapton e pela gaita de Bruce. Também os vocais estão bem imponentes. Mais um momento intenso do álbum.

É uma canção tradicional do Blues norte-americano, sendo regravada por incontáveis artistas. Mas a versão do Cream é baseada na leitura que Muddy Waters fez nos anos 50.



I’M SO GLAD

A nona música do disco é “I’m So Glad”.

O início de “I’m So Glad” é suave com linhas quase acústicas e melódicas, mas que logo são reforçadas pelos vocais fortes e intensos de Jack Bruce. Baker faz um excelente trabalho na bateria, dando peso e dinâmica à execução. Do meio pra frente da faixa, a guitarra de Clapton toma conta, com solos repletos de técnica e feeling.

É outra composição presente no álbum que se trata de uma releitura feita pelo Cream. A original foi composta por mais um ‘Bluesman’, Skip James. Entretanto, a versão do Cream é uma das faixas mais conhecidas e queridas pelos fãs da banda.



TOAD

A décima – e última – faixa de Fresh Cream é “Toad”.

“Toad” tem um início bem pesado, com guitarras distorcidas e seção rítmica bem pesada. Mas quase sua totalidade de duração é preenchida por um excelente solo de bateria feito por Ginger Baker, um dos primeiros a serem gravados por bandas de Rock. Portanto, trata-se de uma composição instrumental.



Considerações Finais

Para a promoção do álbum, foi lançado o single “I Feel Free”, presente apenas na versão norte-americana do disco, mas que atingiu a 11ª posição da parada britânica de singles e foi o primeiro sucesso do Cream.

O álbum foi sucesso no Reino Unido, alcançando a excelente 6ª posição na parada britânica desta natureza (foi 10º colocado na parada australiana). Mas, entretanto, inicialmente não repercutiu nos Estados Unidos, onde só foi bem com o lançamento dos discos posteriores do grupo.

Nos shows o Cream aumentava consideravelmente a duração das composições presentes em Fresh Cream, incluindo longos solos de seus virtuosos músicos. No Reino Unido, as apresentações sempre eram muito concorridas.

Mas, na primeira excursão aos Estados Unidos a banda não repercutiu e os shows foram cada vez mais curtos e sem público. A situação mudaria com o lançamento do clássico Disraeli Gears, segundo álbum da banda, em 1967, o qual aumentaria, também, as vendas de Fresh Cream nos EUA.

Estima-se que, apenas nos Estados Unidos, Fresh Cream supere a casa de 500 mil cópias vendidas.



Formação:
Ginger Baker - Bateria, Percussão
Jack Bruce - Vocal, Baixo, Gaita
Eric Clapton – Guitarra

Faixas:
01. N.S.U. (Bruce) - 2:43
02. Sleepy Time Time (Bruce/Godfrey) - 4:20
03. Dreaming (Bruce) - 1:58
04. Sweet Wine (Baker/Godfrey) - 3:17
05. Spoonful (Dixon) - 6:30
06. Cat's Squirrel (Tradicional) - 3:03
07. Four Until Late (Johnson) - 2:07
08. Rollin' and Tumblin' (Tradicional) - 4:42
09. I'm So Glad (James) - 3:57
10. Toad (Baker) - 5:11

Letras:
Para o conteúdo completo das letras, indica-se o acesso a: http://letras.mus.br/cream/

Opinião do Blog:
O Cream é uma das bandas mais incríveis e importantes do Rock, mesmo tendo uma duração e carreira tão curta e efêmera. Pode ser considerado um dos primeiros “supergrupos” (aqueles conjuntos formados por músicos já consagrados) que se têm notícia e uma das bandas que influenciou o surgimento do Hard Rock na década seguinte.

Além disso, Fresh Cream marca a estréia do extraordinário Eric Clapton aqui no Blog.

Falando-se mais especificamente de Fresh Cream, a rapidez entre o surgimento do grupo e a gravação do primeiro álbum de estúdio foi responsável que boa parte das canções do trabalho fossem versões de composições de outros autores.

Nada disto, porém, tira o brilho de Fresh Cream. O trabalho é todo muito coeso, consistente, sem pontos baixos. A sonoridade é um Blues Rock vigoroso, forte, o qual apontava para o futuro e para explosão do Hard Rock dos anos setenta, mesmo que em doses ainda pequenas.

Como é costume do Blog, analisam-se apenas as letras das composições próprias do grupo autor do álbum em questão. Mas pode-se dizer que a temática abordada pelo Cream neste trabalho inicial é simples, mas condizente com as características do Blues.

Dispensável abordar a qualidade dos músicos presentes no grupo que, com o passar do tempo, tornaram-se referências para o Rock. Ginger Baker, Jack Bruce e Eric Clapton despejam talento, feeling e técnica por todo o álbum. Bruce ainda arrasa na gaita!

O Blog destaca “N.S.U.”, “Sleepy Time Time”, “Sweet Wine” e a versão incrível para “I’m So Glad”, embora, como já mencionado, não existam pontos baixos no trabalho.


Enfim, o Blog recomenda fortemente o primeiro (e todos os demais) álbum do Cream como referência para todo fã de Rock que se preze. Obrigatório!

2 comentários:

  1. Inacreditável que uma banda assim tenha existido! Nasci em 1968, mas creio que meu espirito está preso a essa fantástica época de abundante beleza musical. Para mim o Cream é a banda mais formidável! Então desde que ouvi o Eric, entendi o que é emoção musical.

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    1. Exatamente isto, Antônio. Obrigado por seu ótimo comentário!

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